5 de abril de 2008

Dente-de-Leão


Ninguém pode indicar o caminho, porque, na verdade, o caminho não existe.
Você está sempre no objectivo. Onde você está é onde está o objectivo. O caminho não existe.
Se estiver sempre a perguntar qual é o caminho, estará sempre a tentar criar um futuro - e o futuro é um pesadelo.
Olhe. Neste preciso momento a vida está a surgir de todo o lado. Basta estar atento um momento para ver como é absurdo perguntar qual é o caminho, a via, o método. Não há nada a fazer.
(...)
Sempre que alguém vem ter comigo e me pergunta qual é o caminho, penso sempre: “Lá vem mais um louco.” Se eu não lhe indicar o caminho, pareço frio e antipático. Mas, se lhe indicar o caminho, estarei a enganá-lo.
A única coisa que se pode fazer é atirar a pessoa de encontro a ela própria. Por isso, tenho de inventar caminhos que não são caminhos, que apenas parecem ser caminhos. Não levam a lado algum, porque não há para onde ir. Todos nós já lá estamos. Não há para onde ir.
Eu invento caminhos e métodos só para cansar as pessoas, para as fazer exaustas, para que, um dia, na mais profunda exaustão, simplesmente larguem a sua busca e caiam no chão, cansadas - cansadas de caminhos e métodos, cansadas de buscar e procurar. Subitamente, a paz desce sobre elas – a paz que transcende a compreensão. E elas riem-se, porque vêem que isto sempre lhes foi possível. Mas foi só por causa delas próprias que esta paz não surgiu antes. Elas estavam a fugir.
Todos os caminhos levam a um “onde”, mas a verdade está aqui. Todos os caminhos levam a algum lado, mas a verdade está sempre aqui. Não há caminho que conduza até si próprio.
É por isso que eu me esforço tanto por o cansar. Não descanse. Você pode viver a meio gás durante várias vidas, sempre a ter esperança. Esforce-se. Esforce-se de uma forma absoluta, total, para que se possa cansar – tanto que o cansaço o obrigue a parar de se esforçar e, subitamente, deitado no chão, você apercebe-se da realidade que está presente.
Deus não é uma coisa. Deus é todo este espectáculo. Você não o consegue apanhar. O Nirvana não é um local. É todo este espectáculo da vida.
Estive a ler uma história:

Era a Primavera e a professora disse aos alunos:
- Há pouco tempo vi uma coisa e gostava de saber se algum de vocês também a viu. Se sabem o que é digam. Vi uma coisa a sair da terra, com pouco mais de dois centímetros de altura; tinha uma bolinha peluda em cima e, quando lhe soprei, ela soltou uma galáxia de estrelas. Então, o que acham que era antes de ser uma bolinha peluda?
- Era uma florzinha amarela, como um girassol muito pequenino – disse uma das crianças.
- E antes disso, o que era?
- Era como um chapéu-de-chuva verde pequenino. Estava meio fechado e tinha umas riscas amarelas – disse uma menina.
- Sim, mas o que era antes disso?
- Era uma bolinha de folhas verdes a sair da terra – disse a outra.
- E sabem como se chama?
- Dente-de-leão! – responderam as crianças em coro.
- E já alguma vez apanharam um dente-de-leão?
Muitas crianças disseram que sim, mas a professora explicou:
- Não, porque não se pode apanhar dentes-de-leão; isso é impossível. Um dente de-leão é tudo o que vocês disseram e mais ainda, por isso aquilo que apanharam foi só uma parte de uma coisa. Não se pode apanhar um dente-de-leão porque ele não é uma coisa. É um processo, é um espectáculo. E, sabem, tudo é um processo e um espectáculo, até vocês.

É impossível apanhar um dente de leão, uma coisa minúscula, na sua totalidade, porque a totalidade é imensa. Então sequer pode apanhar uma florzinha, como poderá apanhar Deus? Deus é um espectáculo. Tudo o que existe hoje é Deus; tudo o que alguma vez existiu é Deus; tudo o que alguma vez existirá é Deus. Deus não é uma coisa, é um processo. É tão infinito e tão vasto – como procurar Deus? É impossível.

Você pode viver, pode deixar-se cair neste oceano infinito de divindade. E esta porta abre-se agora mesmo. Não precisa de esperar.
(...)
Excerto do livro “ O Homem Que Amava Gaivotas”, Osho

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